Aprender o significado e os porquês de cada reacção constitui, por si só, uma valiosíssima ferramenta de trabalho.
O que são?
Os caldos são a base de toda a cozinha, isto é, para quase todas as elaborações eles estão presentes, seja num prato de carne, peixe, arroz ou outro.
Como acontece?
Normalmente todos os caldos são produzidos a uma temperatura média de 100 graus.
Durante este processo e ao longo de várias horas, as proteínas solúveis presentes na carne ou ossos (no caso dos caldos de carne) são libertadas. O colágeno é convertido em gelatina - a única proteína libertada destes; a sua extracção depende do tempo de confecção e da temperatura. Na primeira hora de confecção também libertam o magnésio e o cálcio, entre outros.
No caso dos caldos de legumes libertam todos os nutrientes solúveis na primeira hora de cozedura. Devido à sua frágil estrutura não é aconselhável prolongar demasiado no tempo, a confecção. Qualquer caldo de legumes deverá ser produzido a uma temperatura nunca superior a 82 graus.
A temperatura desempenha um papel crucial
Um dos passos mais importantes na produção de um caldo límpido está na temperatura do caldo- até 100 graus, numa panela destapada.
Se o caldo ferver as impurezas irão turvar o caldo.
Aquecer o caldo lentamente permite que as impurezas subam à superfície para que desta forma possam ser removidas facilmente com uma escumadeira.
A panela destapada garante o arrefecimento do caldo durante a evaporação, ajuda a manter uma temperatura constante e também "desidrata" a espuma que sobe à superfície o que facilita a sua remoção.
A importância do colágeno
O colágeno é fundamental.
Podemos encontrá-lo em abundância nos ossos, no seu tecido conjuntivo- responsável por conferir aos mesmos uma certa flexibilidade. Durante todo o processo o tecido acima referido transforma-se em líquido numa reacção conhecida como hidrólise - um processo de desnaturação que o irá, por consequência, transformar em gelatina. Com isto consegue-se uma textura nos caldos muito mais sedosa, com o aumento da viscosidade. Este aspecto torna-se evidente depois de arrefecido, se bem executado.
Alguns tipos
Caldos claros:
Carnes, aves, legumes, peixe, etc.
Caldos escuros:
Carne, aves, caça, etc.
CALDO CLARO DE VITELA
Os ossos devem ser bem sangrados em água e gelo. O colágeno presente nos ossos será suficiente, no entanto podem-se adicionar outros suplementos como patas de vitela ou asas de frango. Usa-se também o mirepoix cru ou ligeiramente cozinhado. Apresenta uma cor clara e textura sedosa.
CALDO ESCURO DE VITELA
O caldo escuro como o próprio nome indica obtém uma tonalidade escura quando selamos a carne,assamos os ossos e coramos os legumes - reação Maillard.
Este caldo poderá ser usado como base ou então reduzido substancialmente resultando numa glace muito mais concentrada e com mais sabor (normalmente reduzo este caldo a 8 a 10 vezes: cada litro resulta em 100 gr de glace).
Daqui pode derivar também o muito conhecido demi-glace que é composto por: Molho espanhol, caldo escuro de carne e vinho madeira. Explicado em pormenor no fim do artigo.
CALDO DE PEIXE
À semelhança de todos os outros é produzido a partir das espinhas do peixes, também elas sangradas em água e gelo de um dia para o outro. Normalmente estes caldos são produzidos em aproximadamente 3 horas em lume brando. Resultará num caldo também ele gelatinoso.
As cabeças dos peixes são as melhores partes para se usar, pois são ricas em sabor. Recomenda-se a extração dos olhos e das guelras. Os legumes devem ser brancos: cebola, alho francês, rama de aipo para não alterarem a cor do caldo. Se o reduzirmos resultará em fumet de peixe, de sabor substancialmente concentrado.
CALDO CLARO DE LEGUMES
O caldo de legumes é produzido a partir de vegetais crus.
Requerem menos tempo de fervura comparativamente aos de carne.
Neste não teremos colágeno de origem animal, por isso será mais fluído.
Podemos recorrer à adição de algas ou grão-de-bico.
Ao contrário dos caldos de carne estes podem ser produzidos numa hora, oferecem versatilidade e melhoram as elaborações, em alternativa ao uso de água simples.
Como não possui qualquer proteína de ligação perde sabor rapidamente; deve ser usado em dois dias máximo.
REMOUILLAGE
Um remouillage é um segundo caldo feito a partir dos ossos já usados, o termo é francês.
A vantagem de se fazer um segundo caldo está na extração ao máximo das propriedades dos ossos/carnes.
A remouillage é obviamente mais fraca que a primeira confecção. Raramente é usada isoladamente, normalmente eu junto a remouillage ao primeiro caldo, com isso consigo uma quantidade maior de produto final.
DEMI-GLACE
É uma mistura tpt de molho espanhol e de caldo de carne, abaixo explicadas, às quais se adiciona também vinho madeira.
Reduzido até aproximadamente 50 % do volume inicial, como o próprio nome indica.
Tradicionalmente produzido com caldo vitela.
É uma das muitas heranças que recebemos de Escoffier. (Quem foi?)
Molho Espanhol
Ingredientes:
80 g de cebola
40g de cenoura
20 gr de farinha de trigo
20 gr pasta de tomate concentrado
1 folha de louro
700 ml de caldo de carne escuro
5 gr de pimenta preta
Preparação:
Corar os legumes. Polvilhar com farinha, adicionar o caldo de carne e os aromáticos.
Durante o processo deve-se limpar as impurezas que surjam à superfície.
Coar. Reduzir a 1/3 .
Caldo de Carne
Tempo total de confecção: 12 a 16 horas.
Ingredientes:
3,6 kg Ossos de vitela
1 mão de vitela
480 gr vinho tinto
8 lt de água
300 gr cebola
450 gr alho francês
350 gr cenoura
350 gr tomate
Tomilho e Louro
Preparação:
Corar os legumes num sautê, se os assarmos irá conferir um sabor mais ácido ao caldo.
Assar as carnes. Fazer a deglaçage com o vinho tinto. Juntar tudo e deixar em lume brando. Nunca deve ultrapassar os 100 graus, como referido anteriormente.
Coar e reduzir até ter a concentração desejada de sabor.
Assar as carnes. Fazer a deglaçage com o vinho tinto. Juntar tudo e deixar em lume brando. Nunca deve ultrapassar os 100 graus, como referido anteriormente.
Coar e reduzir até ter a concentração desejada de sabor.