Sezelhe, 28 de abril de 2024 A memória é um lugar. Por apreço, admiração e com gratidão aceitei o convite do meu amigo Ângelo Paupério para constituir um pequeno grupo de pessoas, desde de que aprumadamente alinhadas procurassem distinguir a comida do alimento. Constituído o grupo, seguimos juntos para uma viagem de cerca de 150 quilómetros. Parámos no centro de Montalegre. O tradicional café, no tradicional estabelecimento, com o tradicional aroma a mofo. Sempre que vou para o interior é um prazer sentar-me nestes cafés e, como bom português costumeiro, ouço as conversas. Fala-se do que é importante: no gado, nas sementeiras e nas colheitas. Pensa-se no que é real. Está frio e nublado. O sol espreita tímido. Compram-se as últimas cebolas, antes do almoço. Dali a Sezelhe são mais uns minutos de carro que percorremos com a mesma lentidão dos nossos olhos deslumbrados por tamanha beleza destas paisagens transmontanas. Chegados a Sezelhe, surge inesperadamente, co
“Of course, we are Fado. We are bacalhau!” Esta foi a célebre frase do nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a 18 de Setembro de 2023, aquando da sua visita ao Canadá, mas será mesmo assim? Fotografia: Vasco Pinhol O que é isto de comida e identidade? As pessoas comem cultura. A comida deve ser, por isso, interpretada como uma construção cultural, será o elo entre uma determinada comunidade em determinada geografia. Não ingerimos tudo o que é possível ingerir. Selecionamos de acordo com a nossa cultura, educação, meio ambiente. Será um complemento ou uma integração? Uma representação do quadro social a que pertencemos? Ou apenas convenções que se foram transformando numa memória cultural e uniforme, num espaço quimérico? O culto ao bacalhau, protagonista deste texto, está enraizado nos nossos habitus culinários, que se formou pela incorporação, ao longo de centenas de anos. Segundo Gordon Shepherd , neurocientista americano, estas combinações que aprend