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RESTAURANTE PALCO - CHEFE MARCO ALMEIDA

 

Chefe Marco Almeida e Ana Vinagre
Fotografia: Paulo Alves


Aqui há uns anos, quis o destino ou a vida cruzar-me com o Marco. Fomos adversários numa competição nacional - Chefe Cozinheiro do Ano. Prometi visitar, um dia, o seu restaurante. Esse dia - mesmo que com quase quatro anos de atraso - chegou.  Não posso escrever que correu mal. Também será injusto escrever que foi bom, mas já lá vamos!

Estamos em janeiro e a avenida Dom Afonso Henriques está quase deserta. Está frio. Ao fundo e muito discreto, à esquerda, está o Restaurante Palco.  Abro a porta e o primeiro contacto que tenho é com o sorriso de Ana. (parte I de um livro sobre hospitalidade? Talvez!) Um metro à frente, na cozinha aberta, está o chefe Marco Almeida e a sua equipa de cozinha. 

Escolho um lugar que me permita acompanhar de soslaio o desenrolar da ação na cozinha. A sala é pequena, acolhedora e bem decorada. Existem três menus: Palco 5 cenas, o Equilíbrio e o Palco de 10 cenas, 30 EUR, 105 EUR e 85 EUR, respetivamente. Na carta, em cada prato, está a distância entre o restaurante e o produtor, com o respectivo nome. Uma ideia discípula, talvez, de Nuno Diniz. Que mais lhes sigam o exemplo. Que orgulho!

Começamos pelo pastel de tremoço que, além de crocante estava bem temperado, tão bem temperado que à segunda unidade era capaz de trocar o vinho branco de Luis Pato por uma Mini bem gelada! Ao lado está o bolinho de …(outra vez natal?) pata-roxa. Ufa! Uma reinterpretação do tradicional bolinho de bacalhau, digamos, uma versão 2.0. Apressa-te e regista a patente, Marco! Depois não digas que não te avisei! 

Fecha-se o acto com o glorioso Beirão de quem se gosta – limpo, limpinho! 




Não há música de Amália nem de Carlos do Carmo, mas nem por um segundo duvido que estou, de facto, num restaurante português. Isso é bom. Veja-se este pão, esta manteiga de cabra e esta “manteiga" de leitão. E a glace de vitela com tutano e ovo estrelado com gema cremosa? E o pão a surfar nisto tudo? Adjetivos, alguém arrisca?




Por falar em surfar: um tártaro de ostra com água do mar texturizada e um granizado de aipo e maçã, será suficientemente marítimo? Terminado e bem, na mesa, com duas gotas de um picante de Jalapeño. Bingo!



Regressados à areia, digo, à terra, um sushi vegetal de beterraba. Ideia bem conseguida e servida em três momentos: prato de beterraba com arroz de sushi e tapioca de beterraba, um detox de beterraba e gengibre, e um algodão doce com kombu. Na boca uma maravilhosa combinação de picante, terroso, doce, aqui e ali mais ou menos adstringente e, como não podia faltar, cheio de umami.




Não é raro encontrarmos caracóis, em Portugal. Raro é encontrar caracóis em restaurantes portugueses. O nome da avenida não é à toa. Será Marco um potencial conquistador de novos reinos gastronómicos, ainda intocados (ou quase)? Veremos, mas a julgar pela beleza estética, olfactiva e gustativa deste prato já tenho as minhas apostas. O ouro sobre azul: encerrado com "caviar" do mesmo. Obrigado! 





Escrevo agora a partir de uma esplanada, em Odeceixe. Estou de chinelos e calções. Leio um livro. Adormeço. Sonho com um arroz de enguia fumada, mexilhão e algas, com muito sabor. Colherada atrás de colherada e eis que... Acordo! Tenho o arroz mesmo à minha frente e continuo em Coimbra. Que cabeça a minha!





Será que me leram a mente? Como pré-sobremesa trazem mesmo um gelado. Um gelado de arroz doce com um toque subtil e curioso de gema curada. O sabor do arroz tradicional, ou o que entendemos como tradicional está lá, a cremosidade idem.




Por último, mas não menos importante, entre os laranjais de Sta. Clara e o Milagre das Rosas da Rainha Santa, encontro a sobremesa. Está tudo aqui: Rosas, laranja e , imagine-se, até um pudim de pão com uma camada crocante de açúcar! 




O café é da fábrica Estrela da Beira, uma das torrefatoras mais antigas do país. Que opera desde 1944 servido com um pastel de Tentúgal, que dispensa apresentações. 

Quando escrevi no início que não seria justo escrever que tinha sido bom queria escrever que foi mais do que isso: realmente muito bom. 

Têm um nível de detalhe muito acima da maioria dos restaurantes com 1 estrela (que eu tenha visitado) em território nacional.

Um trabalho muito válido e corajoso. Cheio de sabor e muito humilde. Não vendem gato por lebre e disso já há que chegue. 

Parabéns Marco, Ana, Bruno, André, Hugo, Tayna e Isaura.


Nota: Paguei a conta.



Restaurante Palco

Avenida Dom Afonso Henriques, nº55, 

Loja RCT DTO

3000- 011 Coimbra,

reservas@o-palco.pt,

geral@o-palco.pt

(+351) 938 451 205 



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