- RESTAURANTE PEDRO LEMOS
Poderia escrever sobre o quão bom é passear pelas estreitas e
desniveladas ruas da Foz do Douro, ou sobre o quão bom é o cruzar das aragens do mar e da cidade mas... não.
Irei escrever sobre o jantar que
aconteceu numa pequena casa de pedra cuja a placa ostenta o nome de Pedro
Lemos.
Outrora eram ali servidos cocktails para as elites portuenses.
Os negócios mudaram, mas o brio mantém-se.
Segundo me diziam, tínhamos ali um dos melhores
restaurantes da cidade.
Merecerá a reputação que granjeia?
Leiam até ao
fim para perceberem, se não tiverem tempo para isso liguem-me.
Como é habitual neste tipo de restaurantes o menu inicia com
um conjunto de entreténs de boca, mas aqui fomos directos ao assunto. Sem aborrecimentos.
Escolhemos o menu maior de 10 pratos (130 EUR.)
Começou muito bem com uma gamba do Algarve ligeiramente
cozinhada com um puré de couve-flor e um ar produzido com as cascas do dito. É
uma ligação em toda linha ganhadora.
No segundo momento subimos mais uns degraus para uma
tartelete de codorniz acompanhada com um caldo de fumeiro. A tartelete estava
crocante como era desejável, já o caldo pecou por falta de força, talvez para
que não sobressaísse ao recheio de codorniz, não sei.
Apesar de os patos sofrerem maldades atrozes não consigo negar um bom foie-gras, quando bem cozinhado, o prazer na boca é
o equivalente a um banho fresco, numa tarde quente de verão. Bom mesmo. Neste
caso não me molhei, mas o prazer foi idêntico, senão superior.
Há velhos ditados, como por exemplo: “nem tudo o que reluz é
ouro” que nem sempre estão correctos.
Constatámos isso mesmo com o prato de atum
rabilho, dashi e enoki. Já o tinha visto algures pela internet e achei-o (à
vista) um pouco "morno/sem graça", mas quando o provo… a palavra potente
torna-se pequena para o adjectivar. O dashi perfeito, o atum perfeito, os
enokis crus, o wasabi pelo meio e ainda a acidez da cebolinha culminaram num
voluptuoso e audível: hmmmmm.
Com o salmonete, beterraba e creme iodado o gráfico de força
do menu não fraquejou um milímetro. O salmonete cozinhado na perfeição ficou
ainda melhor e mais bonito em cima do creme iodado que, pelo que percebi, tinha
sido produzido com natas e as vísceras do peixe, muito intenso, pelo que me
recomendaram provar os elementos de forma sincronizada. Visceralmente bom.
Os crustáceos também foram chamados à conversa e trouxeram
raízes. Que festim bocal de texturas, este prato de lagostim e salsifi!
Não menos forte, mas mais domesticada, a corvina, acompanhada com topinambur e espargos brancos. Afirmou-se como um óptimo
desfecho para o capítulo marítimo.
Como qualquer nortenho, tenho sempre uma certa tendência
carniceira. Desta feita só tive oportunidade de afiar o dente numa ave – pombo-
apresentado com a coxa desossada e peito, bem cozinhados e devidamente
descansados, com cogumelos e maçã verde.
Na transição do salgado para o doce, e sem perceber muito bem porquê, fiquei com
medo de me desiludir, pois muitas vezes o declive da cozinha para a pastelaria,
em certos restaurantes, é enorme.
Mas não foi este o caso. À nossa frente desfilava outra ligação ganhadora- Abóbora manteiga com requeijão - várias texturas de
abóbora e de requeijão. Estava muito neutra, nada ácida, e claramente bem
pensada para transição entre o salgado e doce.
Para término da sessão nem foi preciso sair de Portugal,
incrível não? Pois é, logo ali, na Ilha da Madeira, casa-mãe de um fruto chamado
banana da Madeira que, juntamente com um ou outro apontamento de moscatel, dissipou qualquer dúvida relativamente à reputação deste estabelecimento (agora sim, está
respondida a pergunta inicial).
Importa referir que os timings no decorrer de todo o menu
foram extremamente rigorosos, isto é, sem qualquer sobressalto perceptível.
No
que ao serviço diz respeito foi irrepreensível, quer pela atenção, quer pela
paciência, pois estar a atender um cliente (eu), que faz uma média de 10.000
perguntas sobre cada prato é preciso de facto ter muita paciência.
Por isso Muito Obrigado.
O que gosto, gosto. Não faço fretes.
Ah! E pago as contas no final também.
As fotos estão abaixo com a respectiva descrição.
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Restaurante Pedro Lemos Fonte: TripAdvisor.pt |
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Gamba do Algarve e couve-flor |
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Caldo do fumeiro - um complemento à tartelete de codorniz |
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Tartelete de codorniz |
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Foie-gras de pato, pão de especiarias e pêra |
Pão de trigo e centeio |
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Atum Rabilho, wasabi,enoki e dashi |
Salmonete,beterraba e creme iodado |
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Lagostim, salsifis e molho do assado |
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Corvina,amêijoa ,topinambur e espargos brancos |
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Pombo, cogumelos, avelã e maçã verde |
Abóbora manteiga e requeijão |
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Banana da Madeira |