Cozinha do Palácio da Pena
No século XII foi construída no lugar que hoje conhecemos como Palácio da Pena, uma
Ermida-Santuário Mariano, dedicada a Nossa Senhora da Pena.
Em 1503 D. Manuel I, desenvolveu e enraizou o culto neste local, sendo construído, por ordem deste rei, um convento destinado à Ordem de
São Jerónimo.
Em 1838, D. Fernando II compra o imóvel que já se
encontrava em ruínas, em parte devido ao terramoto de 1755, decide
restaurar e ampliar o que restava do antigo mosteiro.
Rainha D.Amélia e o seu filho D.Manuel que se tornou Rei de Portugal e Algarves |
Após a morte de D.
Fernando II, o palácio é adquirido pelo Rei D. Carlos e D.Amélia que tinham na época ao seu dispor mais de 150 criados
.
A Rainha D. Amélia viveu ali até ao final da monarquia, em 1910.
.
A Rainha D. Amélia viveu ali até ao final da monarquia, em 1910.
Para ficarem com uma ideia de como era organizado um jantar
real, deixo no final deste artigo um excerto de uma crónica de Garcia de
Resende aquando do casamento de D. Afonso com D. Isabel de Aragão, no Séc.XVI, um pouco mais primitivo (aproximadamente 300 anos antes da existência do Palácio da Pena) mas com valor, pela curiosidade.
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes Formas em cobre de vários tamanhos e feitios usados na pastelaria do Palácio. |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Estes fogões foram produzidos pela serralharia Lisbonense de Manoel Silvestre, na época era a melhor serralharia em Portugal, como podemos verificar no excerto abaixo, retirado da revista Universal Lisbonense de 1844:
"... officina de serralharia muito perfeita com excellentes forjas e grande variedade de tornos: ficará egual ás melhores das nações estrangeiras,logo que lhe chegue o grande torno de calibrar metaes que faz tençao de comprar em Inglaterra..."
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Cozinha do Palácio da Pena Foto:Tiago Lopes |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Infelizmente não encontrei nenhuma ementa do Palácio da Pena. Abaixo apresento dois exemplares de dois Palácios diferentes que, de uma forma geral, representam o modelo da época.
Ementa servida no Palácio da Ajuda a 20 de Maio de 1886
Nas ementas do Palácio
da Ajuda e do Palácio das Necessidades (abaixo) é notório o estilo marcadamente francês.
|
Ementa servida no Palácio das Necessidades a
10 de Maio de 1886
|
Uma das salas de jantar do Palácio da Pena |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Cozinha do Palácio da Pena Foto:Tiago Lopes Todos os utensílios estão gravados com o monograma coroado de D.Fernando II |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes Inscrições P.P. - Palácio da Pena |
Cozinha do Palácio da Pena Foto: Tiago Lopes |
Com a implantação da República
Portuguesa, o palácio foi convertido em museu, com a designação oficial de Palácio Nacional da Pena.
Em 1945, a Rainha D. Amélia, de visita a Portugal, voltou
ao Palácio da Pena, onde pediu para estar sozinha durante alguns minutos: era o
seu palácio predilecto... o meu também.
Excerto da crónica de Garcia de Resende aquando do casamento do príncipe D.João com D.Isabel de Aragão:
Documento original aqui: VER
Bibliografia:
RESENDE, Garcia.Crónica de D.João II,1522?
RIGAUD, Lucas. Arte da Cozinha,Colares editora,1ª Ediçao, 2004
RAMALHO, Margarida de Magalhães.Os Criadores da Pena, parques de sintra monte da lua,2013
Excerto da crónica de Garcia de Resende aquando do casamento do príncipe D.João com D.Isabel de Aragão:
« [...] E a mesa de El-Rei com tôdolos oficiais vestidos de
brocados, e servida por moços fidalgos que serviam de tochas e bacios,
ricamente vestidos. E as outras mesas todas com trinchantes e oficiais vestidos
de ricas sedas e brocados e mui galantes, e assim os moços da câmara ordenados
a cada mesa, todos vestidos de veludo preto. No qual banquete houve infinitas e
diversas iguarias e manjares, e singular concerto e abastança e muitas e
assignadas cerimónias. E quando levaram à mesa de El-Rei as iguarias principais
e fruta primeira e derradeira, e de beber a ele e à Rainha, e ao Príncipe e
Princesa, íam sempre diante, dois e dois, muitos porteiros de maça, reis de
armas, arautos e passavantes, os porteiros-mores, quatro mestres-salas, o
veador, e os veadores da fazenda, e detrás de todos o Mordomo-mor, e todos iam
com os barretes na mão até o estrado, onde faziam suas grandes mesuras, e os
veadores da fazenda iam com os barretes na cabeça até o meio da sala, e do meio
por diante os levavam na mão, e o Mordomo-mor ia sempre coberto até o fazer da mesura,
que juntamente fazia e tirava o barrete. E era tamanha cerimónia que durava muito
cada vez que iam à mesa [...] E logo à entrada da mesa veio uma grande carreta
dourada, e traziam-na dois grandes bois assados inteiros, com os cornos e mãos
e pés dourados, e o carro vinha cheio de muitos carneiros assados inteiros com
os cornos dourados, e vinha tudo posto num cadafalso tão baixo com rodetas por
fundo dele, que não se viam, que os bois pareciam vivos e que andavam. E diante
vinha um moço fidalgo com uma aguilhada nas mãos picando os bois, que pareciam
que andavam e levavam a carreta, e vinha vestido como carreteiro com um pelote
e um gabão de veludo branco forrado de brocado, e assim a carapuça, que de
longe parecia próprio carreteiro, e assim foi oferecer os bois e carneiros à
Princesa e feito o serviço os tornou a virar com sua aguilhada por toda a sala até
sair fora, e deixou tudo ao povo, que com grande grita e prazer foram
espedaçados, e levava cada um quanto mais podia.
E assim vieram juntamente a tôdalas mesas muitos pavões
assados com os rabos inteiros, e os pescoços e cabeça com toda a sua pena, que
pareceram muito bem por serem muitos, e outras muitas sortes de aves e caças,
manjares e frutas, tudo em muito grande abundância e grande perfeição».
Documento original aqui: VER
Bibliografia:
RESENDE, Garcia.Crónica de D.João II,1522?
RIGAUD, Lucas. Arte da Cozinha,Colares editora,1ª Ediçao, 2004
RAMALHO, Margarida de Magalhães.Os Criadores da Pena, parques de sintra monte da lua,2013