Entro e saio em vários restaurantes todas as
semanas. Levo sempre a mesma expetativa - nem sempre justa, mas minha, só minha
– que me vou sentar, ser bem atendido e comer bem.
E a verdade é que saio sempre satisfeito:
satisfeito por ter mais um restaurante na lista negra ou satisfeito por incluir
mais um restaurante na minha rotina gastronómica.
Ando interessado por adivinhação, não é ocultismo, eu chamo - lhe de uma forma mais tosca : - "Bate agora com a cabeça, depois acertas" .
Hoje basta-me um olhar rápido, nem sempre
ligeiro, pela carta de um restaurante para saber o que lá dentro vou encontrar.
Tenho atenção aos detalhes como traduções, disposição dos frios e quentes,
preços e a qualidade gráfica e depois levo o estômago queixoso para uma mesa
qualquer .

Na altura hesitei, mas à medida que o tempo
passa, concordo com esta “legalização”.
Não! Prezado leitor, não é burocratizar. É,
talvez, ajustar o que é desajustado por definição em consequência do inócuo
controlo profissional e devido.
O que é desajustado? Pergunta você e muito bem. Eu escrevo:
- Pagar 10€ por 3 pedaços de carne com 3 batatas que esperavam por mim
aconchegadas pela banha de porco, aquecidos no micro-ondas ranhoso e solitário,
no canto mais escuro da cozinha, onde, de vez em quando, a solidão é
substituída pela visita de um artrópode.
- Sentar-me e esperar tanto tempo para ser atendido que, em estado de sonho,
achava muito plausível estar numa repartição de finança
- Confundir a carta com um documento do Séc. XVIII da torre do tombo.
- Confundir a carta com um documento do Séc. XVIII da torre do tombo.
- Ouvir a televisão com um volume exageradamente alto que quase não consigo
ouvir a mastigação divertida do empregado de mesa que vai escrevendo com a mão
o meu pedido e com a boca vai desenhando uma coisa qualquer na parede atrás de
mim
- Aproximarem-se de mim no final da refeição,
desta vez com um hálito trident e perguntarem-me se desejo uma
sobremesazinha, um cafezinho ou a continha. Como sempre, solicito apenas o
terminalzinho para exercer o meu dever de pagar a contazinha com o meu
cartãozinho.
Desajustado é também o excesso de sítios a venderem “comida” e poucos sítios a
funcionarem como restaurante.
Senhores restaurateurs ,
É necessário fazer contas! É necessário
perceber do negócio! Se não sabe, pague a quem lhe possa explicar, mas por
favor não vendam cheesecake em restaurantes de cozinha portuguesa nem
vendam folhadinho de pescada sobre cama (sem lençol) de legumes em restaurantes
de cozinha tradicional portuguesa.
Trabalham pessoas consigo que estão do outro
lado do muro incompetente e obtuso da vossa inconsequente teimosia.
Fotografia: Nilton Freitas
Texto: Tiago Lopes