Trata-se de uma história verídica.
Acontece no Porto, em plena época alta.
Altura em que todas as mãos são
necessárias.
Poderia até alterar o título para “O
diário de uma estagiária de 12h", mas fico-me pelo "desculpa lá".
Primeiro dia: A estagiária entra ao
serviço, é-lhe explicado todo o funcionamento da cozinha, tudo mesmo, até como
ligar o fogão.
Segundo dia: Já foi muito mais exigente,
palavras dela, não minhas, a começar pelo horário repartido; no primeiro turno
foi explicado o funcionamento de uma determinada partida em detalhe, partida
essa que tem 40 tarefas diárias para cumprir em 180min, 10 dessas tarefas
seriam para ela.
A mocinha teria que começar por
algum lado, para que no final do estágio até quem sabe, ser contratada.
No segundo turno, aparece na cozinha sem
estar fardada. Na minha inocência, pensei cá com a minha jaleca: "que
mocinha aplicada, vem à civil ajudar a arrumar as compras, sim senhora!"
Chama por mim: “-Tiago, não venho
trabalhar”. De novo o ingénuo pergunta: “-Mas precisas de alguma coisa? Sentes-te
bem?" "-Não Tiago, não estás a perceber, não venho mais trabalhar,
desculpa lá!"
Perplexo, só me ocorreu "-ok,
adeus" após um minuto e uns quantos desabafos à moda do Porto (mas ninguém
ouviu).
O caso é sério e não será o único.
Não querendo entrar em pedagogias, muito
menos em analogias nostálgicas "ah e tal no meu tempo é que era",
tento ser crítico e pragmático o suficiente para admitir que os tempos são
outros, mas os valores da educação, do sentido de responsabilidade, do
compromisso terão que ser subjogados à insignificância?
Para a formação de um ser humano e de um
futuro profissional, são os pilares base, estou certo disso. Estou certo também
que não é na escola que se incute tal disciplina, a escola instrui a família
educa.
Talvez a juventude de hoje, habituada ao
instantâneo e fácil, esteja a ser formada numa base de desculpabilização do
chamado "tanto faz”. Embora não seja justo generalizar, mas aqueles que
querem fazer do carpe diem a sua máxima diária, ou gozar da boa vida
enquanto a têm, que façam, que gozem, mas que não inoportunem quem trabalha e
de preferência não me apareçam à frente!
Mas como a vida segue ,estás desculpada!