Visitar
o interior de portugal, esquecido mas de uma beleza sagrada, foi este o mote
para aproveitar da melhor forma uma pausa no trabalho!
Para alem do livro "Transmontanices" do Sr. Virgílio Nogueiro Gomes me
ter despertado uma certa inquietação, uma colega de trabalho , de origem
transmontana à qual agradeço imenso, contou-me maravilhas de um restaurante em
Mogadouro.
Como
sempre a viagem começou as 4:30 da manha,após umas curtas horas de sono.
Chegado a Mogadouro,ainda faltando algum tempo para o almoço aproveitei para
visitar o museu arqueológico da zona, que conta também com um curto espólio de
numismático, um gosto meu portanto!
Hora
de almoço, desloco me então para o restaurante " A Lareira".
O chefe (Eliseu Amaro,estudou cozinha em paris 5 anos) já se encontrava na sala da frente, que ao que percebi
deve funcionar apenas como snack-bar.
Bem, mas quando segui as indicações do chefe encontrei uma sala muito
acolhedora e a lareira acesa, como não podia deixar de ser,pois é lá que se grelha
a maravilhosa posta, e não só...
De seguida o chefe explicou-me qual a diferença entre a carne mirandesa pura e
a mamona.
A
carne pura provém de vitelas que não têm qualquer tipo de cruzamento com outras
raças aquando do acasalamento, já as vitelas mamonas sao vitelas cruzadas,ou
seja, não são completamente puras, pois enquanto que uma vaca mirandesa pura
com 1 ano, atinge 150 kg, uma cruzada atinge 200 kg ou mais (apenas 1 exemplo),
mas como o chefe diz, ainda com um sotaque francês,o sabor é muito melhor
quando é de raça pura.
Infelizmente hoje em dia ninguém pode ter certeza se é pura ou não. Mesmo
quando as vitelas sao criadas desde a nascença por um particular, quando vão
para o matadouro entra uma vitela de raça pura e depois poderá ser devolvida ao
proprietário uma vitela cruzada, disse o chefe em jeito de desabafo, estou
inteiramente de acordo a não ser que se mate em casa, só neste ultimo caso se
pode garantir a 100% que se come carne mirandesa.
Burocracias à parte... Terminada a curta troca de ideias, o chefe começou então
por tratar da confecção da carne na lareira a calor muito forte a 20 cm da
brasa(somente carvalho) e temperada apenas com sal, só na altura em que está a
ser grelhada. Estas duas técnicas constam nos mandamentos que ele próprio
produziu.
Para
acompanhamento,batata rosti, cozinha clássica Suiça embora muito associada também a França, muito bem temperada e
cozida, pois o processamento da batata para esta confecção é o mais
complicado.
Para completar sugeriu também uns cogumelos silvestres frescos, muito bem
confeccionados e saborosos, não se comparando em nada com os
"cogumelos" que comemos em restaurantes fast food ou que nos obrigam
a comprar na cidade.
Em Mogadouro, todos os anos pelo outono sao organizadas colheitas de cogumelos,
colheitas essas que qualquer pessoa pode participar, sendo supervisionadas por
um especialista na matéria.
No final do dia, todos os espécimes são recolhidos para um jantar de degustação
no, " A Lareira".
Para acompanhar a refeição, um tinto da casa!
É de realçar a humildade e amabilidade do Chefe e claro a comida que é de uma qualidade sem igual,o ambiente quente junto à lareira e não muito iluminado, faz de cada refeição uma experiência muito para alem de "matar a fome".
É considerado o melhor restaurante de Trás os Montes e Alto Douro, compreende-se o porquê.
Para terminar a viagem nada melhor que venerar o meu deus...a natureza entre Algoroso e Vimioso de uma beleza estonteante.
E claro antes de entrar na auto estrada carreguei o carro com enchidos!
Bons cozinhados