Qual é a coisa qual é ela que tem formato rectangular, meia dúzia de janelas, decorações florais e serve futuro em pratos de cerâmica? Exatamente, o restaurante Fava Tonka, em Leça da Palmeira.
Há alguns anos que conheço Nuno e Carlos (entrevistado por mim em 2018) e não há quem fique mais entusiasmado do que eu pelo sucesso de ambos. Por isso, não só, mas também, aproveitei este momento para matar saudades.
A sala está cheia e o ambiente caloroso. Gente bem disposta dentro. Burburinho. Copos cheios. Eis que Nuno entra, ergue a mão e dá as boas vindas a todos. Introduz o convidado. Agradecimentos múltiplos. Vénias, perlimpimpins e aplausos. À minha esquerda está a brigada sorridente, em prontidão.
Cátia, o general do front office, dá o ok à cozinha e alguém lá ao fundo diz: -" são estes os pratos, vamos, vamos!". Vai começar. Sinto o frio na barriga, como em qualquer início de serviço. Estranho estar deste lado.
À minha volta, nas mesas igualmente, estão alguns colegas de profissão.Que bom ver a minha geração, ao contrário da anterior, interessada nos trabalhos dos outros. Apoiam e celebram. Celebramos, à mudança!
O primeiro conjunto é uma alegria gustativa: está tudo na festa, os cogumelos, a pimenta, o picante, o citrino, tudo, até o crocante com a brick! O acto seguinte, o do pão, bem português por sinal, não faltou à chamada e até trouxe o primo de Paris de France, o Brioche.
Comentário da mesa ao lado:
- Olha que bem que eles ficam juntos!
Respondo eu:
- E agora imagine lá uma broa bem tostadinha e rechonchuda no mesmo plano? ah pois é, também cá está, aqui o mê amigue do alenteje nã brinca!
De frente a frente com a couve-flor, Carlos levou a melhor. Pensou e executou muito bem, no ângulo, sem tocar a barreira. Pontos de cozedura certos, sabores sem picos, tudo bem e equilibrado. Este prato se fosse gente vestia calças de sarja e sapato de vela, com certeza.
O seguinte, de feijão branco e nabo está delicioso, com muita personalidade, cheio de sabor e as ligações bem pensadas. Com picos de emoção, digo, lágrimas de vinagre de Portugal. Este já não saía à rua sem umas Resina. ( e não, não sou pago pela marca).
O milho, estragão e gema é o prato fiel da balança, talvez o prato que ocuparia os lugares do extinto CDS-PP, ao centro, ou seja, não o critíco, mas também não trocava alianças.
Apesar de serem portugueses, não lhes vejo qualquer receio em apresentar um tortellini, ainda por cima não é que o cozinharam na perfeição? Só faltou aqui uma lâmina de trufa e eu chorava. Sim, um homem também chora. De emoção. Não fosse a realidade um preenchimento contínuo.
Tudo é subjectivo, mas o sentir é a prespectiva mais pura e honesta, que nunca será passível de qualquer enquadramento filosófico. É sentir e pronto.
Aqui não se usam guardanapos. Lambem-se os dedos e lava-se a boca com a pré bem desenhada do Carlos (que já conhecia de um almoço que fiz há pouco tempo na Herdade do Esporão). A romã em várias texturas e um Plus: umas Madalenas com aguardente que são literalmente um poema à excelência!
Acabamos como começamos. Isso é bom. O marmelo doce e quentinho e a taça da coragem (sim, coragem) ao lado com um creme de queijo com sal e o gelado de cravinho.(clap, clap)
Nunca fiz Bungee Jumping, mas sinto que durante a prova desta sobremesa estive lá bem perto e até achava que a corda ia rebentar no fim , mas felizmente, os profissionais são experientes e eu voltei a terra, diferente, mas voltei. São e salvo.
Obrigado Cátia, Nuno, Carlos e respectivas equipas. Que honra!
Nota importante: paguei a conta.
Se quiserem visitar o Fava tonka vejam a morada no fim deste artigo ou escrevam no google "Restaurante Fava Tonka"
A acção! |
Tartelete, brassicas e ajo blanco Rillete de cogumelos à bairrada, fermento e laranja |
Brioche e manteiga de cabra |
Couve-flor, queijo Serpa e avelá |
Nabo, feijão branco e cominhos |
Milho, gema e estragão |
Abóbora, parmesão e cogumelos |
Romã, leite de ovelha e batata doce |
Madalenas de aguardente e batata doce |
Marmelo, queijo da serra e cravinho |
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