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TRAZER HUMANIDADE



Originalmente publicado no Etaste
Escrever sobre humanidade quando temos dos melhores hotéis, das melhores praias, dos melhores sóis? Sim! Insisto no detalhe humano.
Não compactuo com a ideia antropozoomorfista tão característica e representativa do clássico pensamento hoteleiro português. Palavra tão extensa e complexa quanto as suas raízes. Sinto, como todos vocês, este conjunto de irónicas antíteses, digamos, contradições bastante objectivas do que se parece ao que efectivamente é.
Ser verdadeiro por imposição instintiva é muito diferente de sê-lo com medo das consequências, quero dizer, a necessidade da abordagem, por respeito à realidade, é o centro do meu dever enquanto parte de um todo que é tão meu quanto vosso.
A palavra humanidade está para a hotelaria e restauração como Satanás para a Igreja. Por quê? Porque sendo uma das áreas mais distantes do que podemos considerar razoavelmente ético e lógico, no que à gestão de recursos humanos diz respeito, será bem-vindo pensar-se sobre isto sem grande comprometimento.
Longe vão os tempos dos amestrados, dominados por um mentecapto autocrático que não olhava além do seu umbigo e bem-estar.
Quem o defende, também, é Shoshona Zuboff, psicóloga da Harvard Business School “as empresas passaram ao longo deste século por uma revolução radical, e com ela veio uma correspondente transformação da paisagem emocional”.
Não se percebia, e ainda hoje não se percebe que, quando emocionalmente perturbadas, as pessoas não conseguem ouvir, aprender ou tomar decisões de forma clara e objectiva.
O stress de certa forma torna as pessoas estúpidas.
O sistema, hoje, serve-se inteligente. Por consequência da elevada instrução individual há (ou deveria) uma urgência na readaptação dos sistemas organizacionais.
O capital humano é, como sempre foi, um recurso vivo em constante transformação/evolução, como tal carece frequentemente de desafios, objectivos, estímulos negativos e positivos.
A remuneração já não se apresenta como base principal para a tomada de decisões. Trocou-se o quanto pelo quem. O quanto vou ganhar interessa, mas não tanto quanto como o com quem ou o onde e que vantagem retiro disso.
Só as melhores cabeças atraem as melhores mãos.
A exigência e a disciplina são uma constante que se quer bem equilibrada entre o racional e o emocional.
Tempos houve em que criar uma barreira suficientemente distante e fria para com os subordinados era uma teoria predominante. Considerava-se mesmo um absurdo pensar o contrário, não só pela ameaça que representava à qualidade da gestão humana como pela dificuldade em tomar decisões duras no futuro.
A tão rígida hierarquia fria e distante começou a desmoronar-se a partir dos anos 90 por força da globalização e das novas tecnologias. Esta ideia das cavernas simboliza o passado. O futuro está no virtuoso e corajoso gestor das relações interpessoais.
O futuro é, também e por isso, acreditar. A quem gere cabe a função de fazer acreditar. Por muito altos e inalcançáveis possam parecer os objectivos é importante a presença de uma comunicação clara e objectiva que só um emissor emocionalmente inteligente e equilibrado poderá transmitir.
Chefia não é domínio. É a arte de persuadir as pessoas a concentrarem esforços no objectivo comum.
Para que aconteça não vejo outro caminho senão caminhar lado a lado.
Sensibilidade para com as pessoas, ou a falta desta, conduz as melhores empresas aos piores resultados.
Que possam salvar o mundo a partir das vossas cozinhas ou secretárias não duvido. Mas nunca se esqueçam: É necessário trazer humanidade.


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