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A MEDIATIZAÇÃO DESMEDIDA


Originalmente publicado no etaste.pt VER AQUI 
Um cozinheiro deve, na melhor das hipóteses, ser julgado apenas pelo seu trabalho. São menos as vezes em que a ilusão do que parece se mistura com a ciência do que realmente é.

Espalhar a própria imagem é um exercício de cortejo simplista. A forma mais rápida de se conhecer o verdadeiro profissional, não o que é vendido, o verdadeiro, é pelo lado tangível da sua cozinha/obra. Aí está tudo o que é objetivamente necessário conhecer. Não esconde qualquer imperfeição, por muito que haja intenção.

O exibicionismo, quero dizer, o exibicionismo barato serve, na maioria das vezes, para esconder lacunas profundas. Ludibriar. Há os que são e há os que parecem ser. Um, sustentável, o outro indefensável, respectivamente. Os fins são coordenados pelas paixões às quais a razão sempre se subordina. O valor, digo, a utilidade subjacente neste tipo de instrumentação é, de certa forma, dispensável, pois a aptidão deriva da vontade e esta está paralela à disciplina auto-imposta. 


É raro quem tenha sido louvado cujos louvores não tivessem origem na sua própria boca. Destes pouco mais se retira que um conjunto de abstraccionismos, afixados com veemência na glória suis generis que julga obter.
A tolerância tornar-se-á rapidamente insuportável quando excessiva. A vaidade é  inversamente proporcional à substância, ao passo que a exibição do concreto, do palpável, da obra apenas se reconhece numa palavra: Orgulho. E isto é bom.

Geralmente, quando nos deparamos com a grandeza genuína tendemos a ignorar, empurrando para o factor sorte qualquer mérito por este obtido, esquecemos que toda a obra, se bem produzida, viverá sempre muito mais tempo do que quem a produziu, não importando para a equação qualquer outro artifício.

Ao longe a percepção é facilmente deturpada. Pode parecer confuso para os que acreditam que as nuvens são brancas ou que o mar é azul, no entanto, se em tudo atentarmos às imperfeições, constatámos que por todo o lado proliferam oportunidades de se fazer diferente e melhor – desconstruir a perspectiva. 

Concentremo-nos no imperativo da acção. O único capaz de alimentar a busca pelo propósito.





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